quarta-feira, 2 de abril de 2008


“Tenho em mim todos os sonhos do mundo”.

Estou inspirada pelo grande Fernando Pessoa nesses dias, além de o meu avô ter trazido um inédito de Portugal, ainda assisti uma peca muito boa, lírica, em que os intérpretes tentavam passar a alma de cada heterônimo de Pessoa.
(Realmente, nasci fora de meu tempo, e não é de hoje que tenho visto isso.)
De um mundo fictício, Pessoa retirou seus personagens e pôs neles um pingo dele mesmo, dizia que os poemas escritos pelos heterônimos não condiziam com ele, mas mostram o que ele não tinha coragem de mostrar ao mundo como sendo ele.
Cidadão do mundo, revoltado com as mesmices alheias, vivia num caso de amor e ódio pela vida. Não sabia em que mundo participar.

Sentei ao lado dele no café de Lisboa, perguntei: Como vai Seu Pessoa? A figura gélida, quase de bronze, me olhou de soslaio, mas não respondeu. Ainda bem que ele não sabia que eu comparava a minha existência a dele.

Fernando Pessoa tem em comum a mim a sua duvida eminente de quem é. Buscando nos seus vários personagens uma resposta a sua ‘mania de duvida’. Tem nas suas paixões mais violência ao seu sedento coração, cheio do frio da solidão, mas nenhum amor.
Finge-se de frio e distante da natureza humana, mas como gênio que é, sente cada dor por não modificar o que deseja. Pretensão minha me comparar a tal personalidade. Concordo, porém, me espelho em suas fraquezas para tentar ser mais forte. Contradição, que me leva cada dia a lutar mais pelos meus ideais.

“Quanto mais às coisas se revelam, mais mistérios dentro de si ocultam.”

Um comentário:

Michael Genofre disse...

"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."

"Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida."

(Tabacaria - Álvaro de Campos)

Minha metafísica me azucrina, consome-me, tortura-me por eu saber que nunca chegarei a nenhuma conclusão metafísica. Esteves sem metafísica de mim mesmo. Salve Pessoa!


Parabéns pela belíssima inspiração regada à tanto heterônimos e tantos pessoas.